quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Cama dos pais!

CAMA DOS PAIS 
por Rita Ferro Rodrigues

A cama dos pais tem um ímã e cá para mim (ninguém me convence do contrário) tem uma magia soporífera, um misterioso pó de amor impregnado nas almofadas, que faz com que os filhos adormeçam imediatamente e que o pior dos pesadelos, o mais trepidante terror noturno, fuja a sete pés.
Na cama dos pais, o último refúgio dos medos, a paz é absoluta e total.
Ali chegam, levados por pais extenuados e vencidos, ou pelo seu próprio pé, transpirados e assustados, passarinhos a voar de noite aos encontrões pelos corredores da casa, até chegarem ao lugar dos lugares. Dois colos com lençóis macios e o cheiro dos progenitores. Caem que nem tordos a dormir, apaziguados.
Os pais fingem que se importam, na manhã seguinte: "Lá foste tu para a nossa cama! Quando é que aprendes a ultrapassar os medos e a dormir sozinho? Tens de crescer!", mas nem olham muito nos olhos dos filhos quando dizem estas coisas, com medo de que eles descubram que naquele breve regresso ao ninho, ao berço inicial, os pais se enchem de amor e ternura e também eles se confortam nas suas inquietações.
Um pescoço morno. Uma mãozinha gorducha no nosso cabelo. Um pé de regresso à costela da mãe. A respiração tranquila na fronha partilhada.
O desejo secreto de que o ninho fique assim para sempre. E que a manhã demore muito a chegar.
Que o misterioso pó de amor das almofadas preserve para sempre estas excursões noturnas de mimo que não são mais do que um inteligente prenúncio, de uma saudade imensa, dos melhores dias desta vida.

Como me identifico com este texto!
Ana, hoje com 5 anos, ainda me chama à noite e quando não sou eu que vou para a cama dela, é ela quem dorme no meio de nós dois. 
Numa dessas muitas noites, disse a ela: "Filha, mamãe precisa dormir, amanhã vai trabalhar cedo e precisa descansar." E ela: "Mãe, dorme comigo". E eu: "Mas a mamãe fica muito apertada na sua cama". E ela: "Eu chego para o cantinho (Quase dormindo na parede), aí você cabe direitinho." E eu: "Mas filha, este é o seu quartinho, mamãe tem o quarto dela." E ela: "Ah não mãe, meu pai quer dormir com você todo dia. Por que eu não posso?"
Segurando para não rir, fecho o olho e ela continua: "Eu sou pequena e tenho que dormir sozinha e você é grande não dorme sozinha. Isto não está certo." 
Falar mais o que????